Nosso fracasso é o triunfo de Cristo

A mensagem do evangelho não é a mensagem daquilo que o homem pode fazer para Deus ou aquilo que ele pode fazer para se salvar. A verdade é que a mensagem do evangelho é que Deus salva o homem, as boas novas são que Cristo veio, morreu no lugar de pecadores e ressuscitou para lhes garantir um relacionamento correto com Deus. Longe vai do evangelho qualquer pretensão triunfalista nas ações humanas. A Escritura é bastante enfática e cheia de exemplos de como a humanidade não pode salvar-se por sua própria capacidade.

Os primeiros capítulos de Gênesis, mostram como o pecado rapidamente toma proporções radicais e generalizadas. Caim comete o primeiro homicídio. Lameque se vangloriou por matar dois homens, um apenas por ter lhe pisado (Gn 4:23). A violência se tornou generalizada, a maldade se multiplicou e todo desígnio do coração humano era mau (Gn 6:5). A reprovação divina é evidente, “se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração” (Gn 6:6). O fracasso humano é indiscutível; sua condição de miséria e perdição é um fato. Entretanto, a história da redenção não se encerra na Queda, ela progride e revela a ação de Deus para salvar um povo para si.

A Escritura nos mostra muitos exemplos de Deus trabalhando em uma lógica invertida, uma lógica que não se adequa a padrão ou perspectiva humana. Histórias que aparentemente terão um desfecho, seguem por caminhos opostos ao esperado. José foi odiado por seus irmão, vendido como escravo, caluniado e encarcerado injustamente, a expectativa é de um fim trágico e sem esperança. No entanto, Deus usou essas situações para prepará-lo para salvar sua família e toda uma nação da fome. O que parecia um fracasso humano foi, na verdade, um triunfo divino.

Outro exemplo bíblico é a história contada em Rute. Uma família de Belém, fugindo da fome, abandona a terra da promessa e se muda para os campos de Moabe. Esses eram os dias dos juízes, onde cada um fazia o que parecia reto aos próprios olhos(Jz 21:25). Em terra estrangeira, Elimeleque, o pai da família morre, seus dois filhos se casam, mas também morrem, restando três viúvas. A situação é dramática, três mulheres desamparadas, sem a provisão e proteção de seus maridos. Os eventos narrados novamente direcionam para um fim desastroso de dor e fracasso. Mas a história dessa família é invertida ao se anunciar que o “SENHOR se lembrara do seu povo” (Rt 1:6). Noemi e sua nora Rute retornam para Israel e lá Deus as favorece. Rute se casa com o justo Boaz, seu resgatador. A família que parecia ter chegado ao fim é restabelecida e Deus usa essa família para preservar a “semente da mulher”(Gn 3:15). Dela procederá o rei Davi e seu descendente Jesus, o Cristo.

Os exemplos são muitos e a verdade do triunfo divino sobre o fracasso humano é evidente. Ele usa o pecado e as misérias para estabelecer seus propósitos. O idolatra torna-se semelhante ao seu ídolo, os pecados se tornam em castigo, ímpios são instrumentos para aplicação de sua justiça. Mas essa verdade é mais evidente na salvação. A perdição humana e seu distanciamento do Deus verdadeiro é seu maior fracasso e desventura. Jesus ensina que ao homem é impossível se livrar dessa condição por meios próprios (Lc 18:27). Mas é na maior decadência humana que o poder triunfante de Cristo se manifesta. A conquista e garantia da salvação é mérito de Cristo, é Ele que nos “conduz em triunfo” (2Co 2:14). No fracasso humano Cristo triunfa, por isso o apóstolo Paulo diz se gloriar na fraqueza, pois na fraqueza o poder seria aperfeiçoado e sobre ele repousaria o poder de Cristo (2Co 12:9). Jesus, em seu sofrimento, humilhação e morte triunfa em nosso lugar. Novamente Deus age invertendo a lógica, o mal é vencido pelo sofrimento. Longe vai toda presunção humana, toda jactância ou vaidade. Aquilo que ao “melhor” dos homens foi impossível alcançar, o Filho de Deus alcançou por meio de sua humilhação.

Essa é a mensagem do evangelho. A mensagem do triunfo do Filho de Deus, do triunfo em favor de todo aquele que reconhece seus pecados, sua miséria e fracasso. Daqueles que se voltam para Deus em arrependimento e fé em Cristo, aceitando em humildade seu imerecido favor. A igreja é lugar de gente fracassada, como diz o apóstolo: “visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são” (1Co 1:26-28). É nesse lugar que o poder da glória de Cristo se manifesta e seu poder triunfante fica ainda mais evidente. Mesmo diante do seu fracasso, há um Redentor triunfante lhe garantindo a salvação e eternidade em bem-aventuranças nEle.