
Categoria: Notícias
Data: 15/03/2023
150 anos da chegada do presbiterianismo na capital pernambucana
José Roberto de Souza
O presbiterianismo no Brasil começou com a chegada de Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867), que desembarcou ao Rio de Janeiro a 12 de agosto de 1859. Simonton foi enviado pela Junta de Nova York, da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América (PCUSA), a Igreja do Norte. Como resultado da Guerra Civil (1861-1865), houve a divisão das denominações norte-americanas, incluindo a presbiteriana. Em 1961, surgiu a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUS), a Igreja do Sul, que criou uma agência missionária e formou o Comitê de Nashville. Esse Comitê enviou ao Brasil o Rev. John Rockwell Smith (1846-1918), na ocasião com 27 anos. O Rev. Smith chegou à capital pernambucana dia 15 de janeiro de 1873 e passou a residir na Rua do Imperador, no 1º andar do sobrado n° 71. Um mês após sua chegada, escreve à sua Missão dando notícias dos frutos do seu trabalho. “A boa obra continua. Desde minha última carta, descobri um fato interessante. O trabalho aqui já se iniciara. Algumas semanas depois, uma carta do irmão Lane me informou de um colportor da Sociedade Bíblica Britânica nesta cidade [...]. É um senhor de idade; seu nome é Manoel José da Silva Viana (fundador do congregacionalismo em Pernambuco). É um português que viveu no Rio de Janeiro durante quase 20 anos, e é diácono, ali, na Igreja do Dr. Kalley”.
Depois de alguns meses, Smith visitou o Presidente da Província, que o autorizou a pregar o evangelho, mas em caráter particular, dentro da sua residência, e não em templo. Poderia também ensinar inglês. Aproveitou essa oportunidade e se tornou um professor de inglês muito respeitado. Mesmo sem dominar bem o português, pregou seu primeiro sermão no dia 10 de agosto de 1873 sobre Lucas 4.16-22. Seu auditório foi de 10 adultos e três crianças. A reunião aconteceu numa casa situada no bairro de Santo Antônio, nas imediações da Rua Nova. Após dominar a língua portuguesa, Smith fez muitos amigos de várias classes sociais, passando a pregar em vários pontos da cidade. Após cincos anos de muito esforço, perseguições e lutas, em 1878, o Rev. Smith e os 12 primeiros convertidos colocaram em execução um plano antigo: organizar uma Igreja Presbiteriana em Recife (1878). Na realidade, seria a primeira Igreja Presbiteriana em Pernambuco. Smith foi um desbravador exemplar, pois, além dessa igreja, organizou outras em Goiana, PE (1880), Paraíba, atual João Pessoa, PB (1884), Pão de Açúcar, AL (1887) e Maceió, AL (1887). Algumas dessas igrejas não existem mais, e as que existem estão em lugares diferentes.
Smith, além de missionário, foi educador. Ele foi o primeiro missionário presbiteriano no nordeste brasileiro e o primeiro professor do Seminário Presbiteriano (Nova Friburgo, São Paulo e Campinas). Além de Teologia, lecionava Inglês, História, Geografia, Aritmética e rudimentos de Grego e Hebraico. Possuía uma vasta cultura teológica, nutrida por sua rica biblioteca. Seus sermões, doutrinários e de conteúdo calvinista, duravam cerca de cinquenta minutos. Em 1881, visitando o Sul do Brasil, Smith conheceu Susan Carolina Porter (1857-1921), com quem se casou e teve quatro filhos e duas filhas. Três deles foram pastores (James Porter, Robert Benjamim e William Kyle), enquanto o outro foi médico (Rockwell Emerson). Uma de suas filhas, Sarah Warfield Smith, casou-se com o missionário Gaston Boyle (1882-1965).
Uma das grandes contribuições do ministério do Rev. John R. Smith, além da abertura de novas igrejas, foi o seu zelo e afinco no preparo de mais de cinquenta homens para o ministério. Conta-se que um dos seus alunos, certa ocasião, recomendou-lhe descanso, e prontamente o Rev. Smith respondeu: “Terei a eternidade inteira para descansar”. Em 1917, aposentou-se devido à saúde debilitada. Faleceu no dia 9 de abril de 1918. Poucos dias antes, disse ter sonhado que distribuía folhetos no interior do Brasil. Poucos anos depois, faleceu sua esposa, Dona Carolina (17.11.1921). Foram sepultados no Cemitério da Saudade, em Campinas, e em sua lápide está registrado: “Pelejaram a boa peleja, guardaram a fé. Quem nos separará do amor de Cristo?”.
O Rev. José Roberto de Souza é doutor em Ciências da Religião pela UNICAP, curador do museu da IPB em Recife, professor e coordenador acadêmico e do departamento histórico do SPN.
revjoseroberto@gmail.com
*Imagem: John Rockwell Smith (1846-1918)
*Imagem: John Rockwell Smith (1846-1918)